quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Córius lutava surpreendentemente ele e Karmos faziam uma boa dupla. Lício brincava com eles, os fazia se chocar contra a parede. Kaia trajava um colant negro com meia arrastão, era certeira, em sua longa trança ela usava uma pequena roda pontuda, parecia um escorpião atacando com sua calda.
Anita com sua fragilidade e delicadeza era astuta. Ela derrubava e atacava sem pensar. Katrine com sua brincadeira de tiro ao alvo os matava sem dramas.
Daniel sempre os atacava nos pontos vitais, rápido como Karmos.
Não fui alvo de nenhum deles, apenas fui publico deles. Enquanto eles matavam, eu fazia minha parte de trazê-los de volta a forma normal.
Velhos, homens, mulheres e jovens. Era terrível ver los.
_ Vamos para casa. Amanhã nos reunimos com os outros. Anuncio Karmos.
Outros?_ Pergunte subitamente. Havia mais?
_ Mais de nós._ Disse Katrine passando o braço por cima de mim.
Havia mais de nós, não deveria ser uma surpresa, deveria ter um exercito de pessoas como nós.
Voltei com os outros, enquanto Kaia foi colada em Daniel. Quando subiu na moto ela me olhou e deixou bem claro que aquele era o lugar dela, o território dela. Que Daniel era dela.
Mulher é um ser bobo, compulsivo, vingativo e perigoso e quando está apaixonada isso se multiplica. Era pó isso e por outros que eu evitava romances.
Aquela noite havia marcado meu gênesis, agora eu sabia que sempre estaria entre a presa e o predador.
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_ O que fazemos agora?
Eu sabia mas não tinha certeza.
_ Não sou eu quem tem que fazer essa pergunta?
Coloquei a mão sobre o corpo, estava morno, eu tinha que purificá-lo. A chama rosada inundou minhas mãos, como naquela noite sentir algo vim e ir, sentia algo intenso dentro de mim. Pensamentos que não eram meus, invadiam minha cabeça.
O corpo que agora estava á minha frente era outro, havia mudado. A minha frente morto se encontrava um senhor já de idade, magrelo,fedia a doença.
Me fez sentir,mal.
_É servo daquelas coisas._ ele disse amenizando meu peso, me decifrando. Os chamamos de casulos, já que abrigam o espirito do mal.
Sairmos dali, antes que outros aparecesse, íamos nos encontrar com Katrine a Anita, mas antes fiz uma pequena cerimônia. Coloquei o corpo em umas das lixeiras e fechei seus olhos, era o que eu podia fazer.
_ Vai orar pela alma dele também?_ Perguntou ele ceticamente.
_ Não enche.
Não andamos muito e encontramos Karmos e os outros. A expressão dele era de preocupação e ele ficava ótimo assim, mas isso era apenas uma observação.
_ Algo errado? _ perguntei.
Ele sorriu, um sorriso simples, mas arrasador.
_ Nada que não possamos consertar. Vamos voltar para a casa.
_ Katrine a Anita ainda não voltaram. _ Disse Daniel.
Antes que eu pensasse em algo, Córius começou a falar.
_ Estão com problemas, á três quadras daqui.
_ Vamos Angélica. _ Chamou Daniel já caminhando.
_ Não. _ Impediu Karmos. _ Todos vamos.
Córius estava preocupado, era fato. Katrine era uma boa atiradora, mas tinha falência em luta, Anita eu não sabia o que podia fazer além de ver almas.
Minha marca queimava, era a presença deles ali.
Katrine e Anita estavam cercadas dentro de um circulo de soldados de deformados bem armados, que ele chamavam de casulo. Foi a primeira vez que vi todos em ação, era incrível.
_Procurando alguém? _ A voz veio de trás.
Me virei rapidamente, ele girou meus braços tirando minhas ramas me jogando contra a parede. Me levantei tão rápido que senti o sangue descer dentro do meu corpo como se eu fosse uma garrafa sendo virada.
Ele puxou outra faca, parecia que havia saído do pulso dele e veio loucamente para cima de mim , tentando me retalhar. Consegui desviar dos golpes eram objetivos, mas lentos.
_ Muito bem. _ Ele sorriu mostrando dentes pontiagudos. Lembrava a mandíbula de um tubarão.
Conseguir tirar uma das facas dele, meu corpo reagia estranho como se fosse aquilo que realmente queia. Usei golpes que aprendi com Kaia, conseguir acertá-lo várias vezes, chutei a face dele e em seguida a cortei.
Ele parou instantaneamente, com um leve movimento o corte se fechou , deixando nem rastro de cicatrização. Ele veio para cima de mim novamente, agarrei seu braço e em seguida o faqueei varias vezes. Ele gritou, sentir algo pulsar dentro de mim, mas não era meu coração. Parecia desejo. Fiquei totalmente perdida em meus devaneios, acabei baixando a guarda, ele socou meu estômago e me agarrou pelo cabelo me jogando no chão.
_ Adeus docinho. _ Ele se despediu, pude sentir a dor antes dele me perfurar.
Minha mão passeou no chão ali, em tentativa de desespero. Eu não iria morrer ali, não depois de tanto esforço. Uma arma foi o que ela capturou.
Ele já estava em cima de mim, vi tudo em câmera lenta. Apertei o gatilho, pude ver a bala saindo preguiçosa, ganhar velocidade e descansar na cabeça dele.
Seus olhos se arregalaram e seu corpo caiu. Sobre o meu. Eu havia acabado de matar.
Quando Daniel voltou me encontrou ajoelhada em frente ao corpo sem vida, em frente a minha primeira morte.
_ Angélica..._ Ele chamou se colocando ao meu lado. _ Você está bem?. _ Ele perguntou se abaixando, observando o corpo.
_ Sabia não é?Sabia que ele ia aparecer.
_ Sim. _ ele disse simplesmente. _ Você tem que passar por isso, todos nós passamos.
_ Cubra as costas deles. _ Disse Daniel a Katrine e Anita.
_ Vai dá tudo certo. _Katrine disse outra vez com convicção. _ Cuide dela. _ Ela pediu ao Daniel.
Ele juntou os braços e levantou a cabeça como um soldado acatando uma ordem. Ela riu e partiu com Anita.
Senti medo, eu iria enfrentar meu destino e era apenas o começo.
_ Venha. _ Ele me chamou.
Nos aprofundamos mais na cidade, estávamos em cima da turma de Karmos. O lugar era sombrio e sem vida.
Pessoas vagavam, pareciam zumbis. Um bando de marionetes sem vida, pessoas de espirito fraco, escravizadas, que não gostavam de ser ajudadas. Para elas eramos tão monstros quantos os outros que as matavam.
Paramos na esquina com duas ruas, uma delas dava acesso a um beco. Não gostei do lugar.
_ Fique aqui. _Ele pediu. _ Vou guardar Sharon em um lugar seguro, um armazém aqui perto.
_ Não vou ficar aqui sozinha. _ Protestei.
_ Volto logo, aqui é um lugar tranquilo, não vai acontece nada.
Ele me deixou sozinha com o medo se aflorando, sim parecia um lugar tranquilo, mas a tranquilidade me assustava. Meu coração batia acelerado a adrenalina se misturava com o medo.
E como um alcoólatra em recuperação tendo uma recaída meu ombro começou a queimar, nunca foi um sinal bom. Um calafrio percorreu minha espinha ajudando o meu mal estar. Onde estava Daniel?
_ Ai está você? _ ele veio correndo com uma faca na mão.
Nunca havia visto aquele homem e nem devia me conhecer, ele veio certeiro e mal intencionado. Saquei os revolveres impulsionalmente e atirei. Ele não se desviou das balas, sumiu como se fosse uma sombra.
O que era aquilo? Ilusão?
Podia ser meus olhos me enganando. Meu ombro continuava a queimar, eu estava lá com as armas apontada para o nada.
“Vai dá tudo certo”, repetir para mim mesma, mas creio que eles não tinha a mesma fé de Katrine.
Iriamos para o centro da cidade para a parte onde as pessoas se mantinham escondidas,pelo menos tentavam.
_ Vamos nos dividir._ Disse Karmos. _ Córius ficou com Lício, Katrine com Anita, Kaia com Karmos o que me deixou sem escolhas. Daniel.
Córius e Licio, ele e Kaia foram para o lado sul onde se concentrava as pessoas enquanto o restante iria cuidar da segurança deles.
_ Você tem sorte! _ Ele disse quando entravamos na garagem.
_ Será mesmo?_ Suspirei
Ele não era a minha escolha e eu não estava satisfeita. Ele não respondeu, encaminhou para um canto.
_ Tem sorte porquê não é qualquer um que pode montar em Sharon. _ Ele disse mostrando uma moto preta lustrante.
_ Colocou nome na moto?
_ Sim._ Ele disse como se fosse uma coisa normal.
_ Sharon Stone. _ Ele disse orgulhoso, dando um tapa na moto.
Como se não bastasse, agora eu teria que ir colada nele.
_ Não tem outra condução?
Ao meu redor havia mais dois carros.
_ O que é Angélica, está com medo de andar de moto? Ou medo de ficar perto de mim?
Ele olhou pelo retrovisor da moto, estava me provocando.
_ Vamos logo. _ Peguei o capacete e montei segurando em sua cintura, mantendo uma boa distancia para não ficar colada nele.
Ele sussurrou algo que classifiquei estar em argentino e então deu partida.
Atrás de nós estava Katrine e Anita de carro. Apesar de está com uma armadura, porquê sim aquela roupa era algum tipo de armadura. Eu podia sentir a brisa quente que soprava e espalhava o cheiro dele.
Havia concentração no trajeto feito, as pessoas que nos observavam parecia nos consumir com raiva. Não entendia já que estávamos ali para ajudar. Paramos em frente de um prédio pequeno.

11.Gênesis

O momento mais esperado, havia chegado.

Depois dos treinamentos passei a ser menos dependente deles, agora me movia com minhas próprias pernas e já podia acompanhá-los em suas missões.
Iria enfrentar aquelas coisas.
Anita disse cariosamente que havia separado uma roupa para mim, Katrine havia escolhido uma boa arma e Daniel me deu uma faca como a sua.
No meu lugar favorito ali, minha banheira eu imaginava como seria e o medo ria de mim, o nervosismo me contagiava. Eles estariam de olho em mim, eu acreditava nisso.
Meus poderes espirituais tinham se desenvolvido, não sabia até onde eu podia chegar e qual era o meu potencial. Eu podia sentir algo indo e vindo quando eles eram usados e pela primeira vez a queimação do meu ombro havia dado uma folga.
A roupa que Anita havia separado para mim era composta por uma calça preta de pano bem grosso e colada. Uma bata negra de manga comprida que cobria meus pulsos , sua gola era aberta, por dentro seu pano era vermelho vinho e em sua costa havia uma rosa esperando desabrochar.
Me vi no espelho e não me reconheci, nunca usaria algo assim, eu estava parecendo uma mercadora da morte.
Katrine me armou, trouxe um estojo que continha duas armas e uma faca esguia dourada que se parecia com um canivete.
_ Está com medo?_ Ela perguntou.
_ E se eu não conseguir?
_ Você vai. Eu vou está lá, todos estarão.
_ Mas ainda sim...
_ Vai dá tudo certo. _ Ela sorriu para a minha imagem no espelho.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Depois de um dia animado eu nunca me sentava a mesa com ele, preferia ficar no quarto, na banheira. Meus músculos se acalmavam e meus tendões se relaxavam, meu corpo cansado se acomodava e descansava.
Katrine também ficava um bom tempo comigo, havia nos tornado companheiras.
Ela era quem eu mais tinha contato e eu lhe dava mais atenção depois de Córius. Tão carente de amigos quanto eu, ela mantinha uma boa relação com os de outros, mas se prendia.
Katrine nasceu ali naquele lado na mesma cidade a qual agora pertencia aos decadentes, única da família a ter um dom, ela foi excluída pelos irmãos e chamada de aberração por muitos. Quando tudo aconteceu ela perdeu sua família, todos foram mortos e apenas ela conseguiu escapar.
_ Sinto muito. _ Eu disse tentando imitar o sorriso terno de Karmos.
_ Às vezes acho que eu deveria ter indo com eles.
_ Não se culpe ou se machuque por isso vai sempre esta com eles de algum jeito. Alem do mais se não estivesse aqui me sentiria um pássaro preso na gaiola.
Na verdade eu me sentiria assim.
_ Você ainda teria Kaia, Anita, Lício, Karmos...
_ Anita, Lício e Karmos poderia até ser, mas a Kaia.... _ Não quis completar
_ Ela não vai com sua cara. _ Completou ela rindo.
_ Que bom que não sou a única que acha isso.
_ E por causa do Daniel, ela tem ciúmes mortal dele, apesar dos dois não terem nada.
_ Não ? _ quase gritei de surpresa.
Não dava para acreditar, eles pareciam tão íntimos.
_ Ele a trata como uma irmã, mas ela nutre uma paixão por ele. _ Ela disse revirando os olhos.
O vidente e a transforme não eram um casal. Sentir uma alegria inexplicável. O achava antipático e cheio de si, completamente fora dos meus padrões, mas ainda sim fiquei feliz. Obscuro e cheio de gracinhas, era assim que eu o via.
Como marcado Karmos me esperava no seu escritório. Tenho que confessar que Karmos me fazia a ficar bem, era um homem bastante atraente sua pose séria e o jeito calmo me encantava.
_ Como foi os treinos ? _ Ele perguntou dando um sorriso terno.
_ Bom.
_ Breve você poderá sair conosco.
Ele se referia sair para ir atrás daquelas coisas, eu temia isso. O meu medo era petrificar na hora e com isso prejudicá-los , eles estavam apostando em mim e eu não queria decepcioná-los.
Karmos me ajudava com meios para eu controlar meu poderes espirituais. Isso exigia mais que concentração e quando eu conseguia isso drenava minhas forças. Era uma luz rosada, se parecia com uma chama, mais ainda era pouco, eu podia ver nos olhos dele. Esforçava-me o máximo, dava o meu melhor, mas não parecia fluir.
_Tenha paciência Angélica. _ Ele colocou uma das mãos em meu ombro.
A sensação estranha percorreu o meu corpo. Compulsão, ele estava usando, o formigamento confirmou. Ele percebeu quando começou á movimentar o ombro.
_ Você consegue saber quando uso o meu dom. Não é?
_ Eu sinto algo estranho e onde você toca fica adormecido.
_ Surpreendente. _ Ele deu um largo sorriso. _ É a única que sente isso. Com Córios e Katrine sente algo ?
_ Quando Córios está na minha cabeça ela fica pesada e com Katrine ela disse que meu corpo é apertado.
_ É o espírito do anjo.
O espírito da boa ovelha ás vezes isso me irritava, só ele importava. E eu ? Apenas uma embalagem que quando tudo isso acabar irá para o lixo enquanto esse tal espírito ia para a reciclagem. Ao ver deles nada ali era a Angélica, a Angélica era só o frasco da essência, a esperança deles.
Não os culpavam, a razão deles era nobre, salvar as pessoas da escuridão, fazer as coisas voltarem ao simples normal. A velha luta entre o bem e o mal, coisa de filme e de livros, mas que agora era a minha realidade.
_ Posso exorcizar aquelas coisas. _ Seus olhos se abriram juntamente com a boca.
_ Ela é ? _ Ele me apontou e olhou para Karmos. Que apenas respondeu com seu olhar calmo, ele sempre estava calmo.
Depois da chegada de Lício e de seu conto, Katrine me levou para seu lugar favorito, a sala das armas.
_ O que Lício faz ? Perguntei á ela.
Ela não mim respondeu estava entretida coma as armas, separando algumas.
_ Ele atravessa coisas, como um fantasma. Seu corpo se desmaterializa e se materializa . _ Ela respondeu e deu início a aula.
Katrine era uma moleca descontrolada, ela adorava brigas e armas essa era sua face de proteção. Tinha a parte sensível que ela tentava esconder, fazia transparecer, principalmente quando se tratava da proteção das pessoas dali. Ela me ensinou todo o processo. Como destravar, carregar, apontar e atirar.
Os demônios não são mortos por armas de fogo, apenas pelas sagradas, mas o seus escravos sim. _ Ela explicou com um sorriso matreiro. _ Agora descarregue seu tédio, digo sua arma.
Havia muitos alvos, pareciam que era papel, mas protegidos com madeira.
_ Não foi tedioso
_ Jura ? _ Ela perguntou surpreendida
_ Sim.
Dava pra ver que era estranho.
_Geralmente Daniel não é lá boa companhia, também com a Kaia no lado não tem como ser.
_ Ele foi objetivo e paciente. _ O descrevi
_ Interessante. _ Ela sorriu
Ela começou atirar e eu a acompanhei, comecei mal várias balas passaram longe do centro vermelho e ela se divertia fazendo furos e mais furos.
_ Logo você pegará a prática. _ Me encorajou ela quando terminamos.
Quando fui encontrar Karmos cai no caminho do Daniel. Ele e Kaia estava discutindo, ela estava alterada e ele mau lhe dava atenção.
Quando passei por ele, ele sorriu pra mim, ela olhou automaticamente, me passando aquele olhar de raiva. Dava pra ver o sangue fervendo pela veia central do seu rosto.
Sempre pensei que os videntes vissem o futuro de todos, pelo menos era isso que os farsantes da cidade promoviam.
_ Como é ver o futuro ? _ Perguntei
_ Sem graça. _ Ele disse cético. Acho que a vida deveria ser surpresa, pelo menos nas maioria da vezes.
_ Em outras não ?
Sua expressão mudou, de indiferente para pena.
_ Você é uma prova que não.
_ Me viu naquele dia no restaurante. Não foi ? Me viu no estacionamento.
_ É eu vi, foi a visão mais complexa e longa que já tive. Vi mais do que podia. _ Parecia está se lembrando.
_ Me viu morrer. _ Finalizei para ele.
_ Não sabia quando, apenas onde. _ Ele disse num tom de lamentação, confirmando os martelos que batiam em minha cabeça.
_ Obrigada. _ Agradeci, havia me esquecido de agradecer.
Ele apenas acenou com a cabeça. O grande portão de ferro rangeu e um carro grande cor prata entrou .
_ Está ai minha visão. _ Vamos você vai gostar de Lício.
Ele guardou sua faca e jogou o machado nos ombros, devia ser pesado. Daniel estava certo, gostei de Lício. Ele era alto, tinha o cabelos curtos enrolado, como os outros tinha o copo atlético, sua pele era morena e seus olhos cor de amêndoa, o seu jeito me fazia lembrar de Bruno.
_ Eles quase me pegarão !. _ Ele disse animado contando a historia.
O portal estava se fechando quando ele escapou de todos.
_ Quem são eles ?. _ Perguntei, eu era a única desinformada.
_ Os escravos daquela coisa, são um tipo de mutantes deformados. _ Ele explicou. _ Hei o que faz Angélica ? _ Ele perguntou depois de contar sua emocionante historia.
_ Tenho poderes espirituais.
Pela expressão feita, ficou de mesmo tamanho.
_ Você quer me matar ? _ Disse eu abaixando a mão portadora.
_ Ter um bom reflexo facilita as coisas._ Ele disse com um largo sorriso.
Estava brincando e não tinha graça. Ele me ensinou como se segura e alguns movimentos.
_ Não é assim. _ Ele disse ficando por trás de mim e pegando meu pulso. _ É assim. _ Ele mexeu minha mão e empurrou minha perna para o lado.
Ele estava tão perto que pude sentir o cheiro dele, era suave e instigante, me lembrava cheiro de madeira. Isso me fez rir metal mente, me fez lembrar uma daquelas cenas ridículas.
_ Agora tente. _ Ele ordenou.
Repeti o movimento, ele balançou a cabeça aprovando, de repente ele não parecia tão chato.
_ Sempre se movimente com astúcia, cuidado e determinação. _ Ele pôs a faca em sua garganta. Cortar a garganta deles e fatal.
De novo aquilo, aconteceu, os olhos dele ficaram estranhos e seus lábios se mexerão rapidamente . Mais que pertubação.
_ O que viu ? _ Perguntei quando ele voltou ao normal.
_ Nada demais.
_ É sempre assim ?
_ O quê ?
_ Você muda.
_ Te assusto ? _ Ele perguntou divertido
_ Não, me perturba, um pouco.
_ Por que ? _ Ele se aproximou ?
_ Acho que é pelo o que ver, deve ser legal ser uma bola de cristal ambulante.
Ele se afastou e voltou a sua posição inicial, se sentou na pedra.
_ Não sou uma bola de cristal ambulante. _ Ele defendeu. _ Só vejo o meu futuro.
_ Nunca vi isso antes.
_ Por quê?
_ Assim a gente se diverte mais na sessão de descarrego. _ Ela riu. _ Acredite você vai está completamente cheia dele.
Eu acreditava nela, pois Daniel era fechado, indescritível, estranho e arrogante, ele mal se dirigia a mim.
_É melhor assim.
Ela disse que de estaria me esperando no pequeno jardim labirinto. Ele não apareceu no café. Estava nublado como na primeira vez que cheguei, a brisa quente batia e aquecia minha pele e levava fios do meu cabelo.
O pequeno labirinto era formado de trepadeira de folhagem verde-escuro e cinza morto, era baixo e curta. O vidente estava ali no centro, sentado em cima de uma pedra apoiando sua face com a mão, estava como sempre indiferente.
_ Está atrasado. _ Ele disse
_ Não determinou horário. Não há atrasados. _ Respondi
Ele ficou calado, quieto, me olhando. Aquilo me perturbava, sempre ele estava me olhando,parecia procurar algo.
_ Vai me ensinar ou vai fica parado ?
Seu olhos enigmáticos se focaram nos meus e para minha surpresa, ele riu.
_ Vamos começar.
Entre os arbustos ele retirou rasteiramente um machado que possuía uma lâmina dourada.
_ Você só deve está brincando! _Falei assustada
_ Estou apenas mostrando o seu futuro, agora usará essa. _ Ele tirou a faca dourada do bolso, a mesma que fez o corpo do demônio sumir.
_ Gosto mais do meu presente. _ Admitir.
Armas sagradas, era o nome dado as armas douradas que eram feitas com ossos dos demônios e com o sangue, mas isso não era a única coisa. Nelas também havia parte dos anjos, daqueles que morreram tentando. A cor dourada vinha do pó de suas assas.
Ele jogou a faca pra mim, pude sentir a força e o vulto da velocidade atingir me rosto, minha mão se moveu sem meu consentimento a agarrando, me fazendo encarar a ponta dela .

10. Fantasma

Tive uma semana bem difícil.
O tempo ali parecia passa devagar e os dias mais extensos. O treino com Kaia foi bastante pesado e dolorido, pude ouvir meu corpo pedindo “Socorro“. E ele sempre esteve lá, vendo o meu treinamento. , Daniel sempre me acompanhava e assistia minha sessão pancada e em muitas vezes o vir rir de mim.
Durante a semana de treinamento a minha rotina era acordar, tomar café, treinar com a Kaia, aprender á controlar meus poderes, reclamar da dor com Katrine. Algumas vezes. Cheguei a fazer isso com Anita, mas ela era tímida demais e quase não falava, muitas vezes puxei papo, mas ela sempre foi definitiva.
Ela estava na sala arrumando a mesa para o café da manhã.
_ O que você faz ? _ Perguntei.
_ Eu vejo as almas das pessoas. _ Ela respondeu com um sorriso tímido.
_ E como elas são ?
Sempre imaginei como uma fumaça, algumas vezes em forma de nuvem.
_ Elas não te uma forma definida, na verdade são quase transparentes. Apenas vendo para saber. _ Ela explicou. _ Hoje você tem treino com Katrine e Daniel. _ Me lembrou ela.
Agora que havia terminado o treinamento com Kaia e Karmos iria passar para a segunda fase com Katrine e Daniel. Katrine iria me ensinar a usar armas, e o Daniel eu não sabia, de repente ele me ensinava tarô.
Eu já estava me cansando daquilo, eu passava os dias treinando e desde que chaguei ali, eu nunca havia saído dali.
_ Você ficara primeiro com Daniel. _ Avisou Katrine.

domingo, 16 de janeiro de 2011

_ Nós precisamos de você Angélica, viu o estado das pessoas aqui. Elas não têm mais esperança, viver ou morrer não faz diferença para elas.
As imagens delas me atacaram, elas eram tão decadentes quanto o lugar. Pessoas cansadas, doentes, com dor, almas perdidas vagantes.
Eu ouvia atentamente tudo que ele dizia. Força espiritual, purificar maus espíritos, colher informações, ele dizia que eu podia fazer tudo isso.
Lembrei-me daquela noite, como se algum dia eu pudesse esquecer. Naquela noite senti meu corpo pulsar e uma luz estranha saiu da minha mão.
_ Você precisa controlá-los. Terá que aprender sozinha, eu apenas vou lhe ensinar os meios. Como esconder sua presença por exemplo.
_ Com isso poderei voltar à outra dimensão?
_ Sim e não. Sua presença não será totalmente escondida, apenas ficara fraca. Ele explicou. _ Mas se tiver algo dessa dimensão na outra ela te sentirá.

Era um escritório. Amplo com enormes pratilheiras com muitos livros, havia um mapa enorme com alguns círculos azuis e quadros pintados a mão por alguém.
Ele estava sentado me esperando. Antes que ele pudesse falar o ataquei.
_ O que foi aquilo? _ Disparei
_ Seu treinamento. _ Ele disse sereno.
_ Eu vim para ser torturada? Não faz muita diferença esta aqui.
Ele riu, achava engraçada a minha dor.
_ Não vai ser nada relacionado á pancada . Certo?
_ Não. _ Ele disse se levantando e vindo até a mim. _ Vou cuidar da sua outra parte, sua parte espiritual. Sente-se. Ele tocou em meus ombros me obrigando.
Não entendi de imediato quando ele disse, mas depois que ele me contou a lenda sem cortes, juntei os pontos.
Há muito tempo atrás, essa dimensão foi totalmente tomada pela escuridão, demônios poderosos dominava fazendo o caos reinar. Para detê-los foram enviados seis seres da luz, seis anjos guerreiros, um de cada vez, mas todos fracassaram. Alguns morreram, outros se juntaram a eles, outros se esconderão na forma humana e passaram a sofrer como os daqui. Mas um sétimo foi mandado.
Ele matou todos os demônios com a ajuda dos “puros”, humanos escolhidos com dons. Mesmo ele ter trancado novamente os demônios, ele havia falhado, a escuridão já havia tomado conta de todo lugar. Seu dever estava comprido, mas ele não podia ir, o sentimento havia lhe invadido e ele não conseguia simplesmente deixar as pessoas como estavam. Então ele se sacrificou. Só havia um jeito de ficar ali, é o único era ser um deles, ser um humano.
Ele desistiu das asas e seu corpo de luz, se tornou de carne e seu espírito aprisionado. Como castigo foi marcado pelos dois mundos invisível. O céu e o inferno.
_ É vocês acham que eu sou esse tal de Zafiriel.
_ Não. Ele balançou a cabeça. _ Não achamos e você sabe que temos certeza.
Anjos, demônios, paraíso, inferno, outra dimensão e agora reencarnação. A impressão que eu tinha era de que complicava ainda mais.
Enquanto eu fazia planos e criava objetivos, eles nunca iriam se cumprir porquê eu era outra pessoa ou pelo menos metade.
Eu não era tão nobre assim e sinceramente não sabia se podia ser assim exorcizar demônios, os matar, ajudar as pessoas, dá minha vida por elas.
_ Vamos fazer uma simulação, eu sou o sequestrador e você tem quinze minutos, mas não pense que vai ser fácil.
Eu não pensava..
_ Quem é você? _ Ela perguntou.
Eu já havia começado a mexer nas cordas, não dei ao luxo de responder e me arrependi.
Ela deu um soco na boca do meu estômago. Não era forte, eu sábia mesmo ter me feito arregalar os olhos.
_ Quem é você? _ Ela perguntou de novo.
_ Angélica Trindade.
Dessa vez ela mim deu um soco no lado direito do rosto e depois no esquerdo.
_ Eu não sei . _ Gritei antes que ela perguntasse.
Ela ia me acertar em cheio bem no meio do meu rosto, fraturaria o meu nariz no mínimo.
Daniel segurou seu punho, ela o olhou sem entender nada, buscando uma boa resposta.
_ Está bom por hoje. _ Ele disse.
Ela continuou na mesma posição, com o punho perto do meu rosto. Por fim ela abaixou o punho e avisou que amanhã no mesmo horário teria mais.
“Amanhã?” Meu cérebro choramingou.
Ele desamarrou as cordas, me libertando. Meus pulsos estavam vermelhos e ardia.
_ O que foi isso?
_ Um treinamento.
_ Só se for de dor!
Ele me seguiu, ficando atrás, eu estava um pouco zonza e meu corpo maltratado. Tinha vontade de desmoronar, creio que ele imaginava que isso logo aconteceria.
_ Por aqui. _ Ele me chamou, me fazendo parar a frente de uma porta.
_ Ainda tem um pequeno treino com Karmos.
O olhei surpresa. “Mais?” “Mais surra?”Pensei
_ Não se preocupe, nada de pancadaria. _ Ele ria da minha cara.
_ Não. _ mentir
A minha primeira e única briga ocorreu na escola, na quarta serie, mas foi apenas dolorosos puxões de cabelo. Creio eu que isso não contava.
_ Isso vai ser difícil. _ Suspirou. _ Então vamos começar realmente pelo inicio.
Sairmos do ring, ela me levou para um conto onde havia um saco de areia vermelho.
_ Passo a passo. _ Ela disse o socando devagar. _ Tente você.
O soquei. Minha mão doeu, com certeza tinha machucado.
_ Assim não! _ Ela repreendeu. _ Seu punho tem que se encaixa de maneira que você sinta afundar.
Ela o socou novamente fazendo sua mão afundar.
_ Agora, você.
Respirei fundo e tentei fazer o melhor, minha mão afundou um pouco.
_ Estamos quase lá. Ela disse.
Ela me deixou sozinha por um tempo no canto socando e socando o saco, enquanto falava com Daniel. Eu estava me esforçando, mas não era de uma hora para outra que eu iria me tornar uma Lara Croft.
Depois treinamos chutes, me dei melhor nisso.
_ Você é boa com as pernas. _ Apontou ela. _ Temos que dividir a força que você tem nelas para o punho.
O treinamento foi grande. Tive que fazer uma série de sessões com chutes e socos e depois trabalhamos o meu corpo. Flexões, esteira, abdominal, meu corpo estava moído. 
Em todo tempo ele esteve ali, nos observando
_ Hei Angélica é boa para escapar? _ Perguntou Kaia.
_ Melhor do que em bater. _ Fui sincera.
_ Ótimo! _ Vamos fazer um teste.
Ela pegou uma cadeira e me amarrou á ela, bem forte.
_ Supomos que você foi sequestrada, e o sequestrador quer respostas. Amarrada assim, quanto tempo leva para se soltar?
Analisei bem os nós com o limite onde minhas mãos podiam ir.
_ Uma hora e meia, no máximo.
Peguei o que parecia ser pão de morango, uma maça e um pouco de suco de laranja, que por sinal era natural.
_ Fique a vontade Angélica. _ Disse Anita com uma voz fraca e insegura me oferecendo mais pão.
A voz revelava sua aparência frágil. Sua pele era clara e delicada como uma boneca de porcelana, seus olhos eram de um tom cinza que eu nunca tinha visto antes e tinham um cintilância incrível. Seus cabelos eram negros com sombras azuladas e curtos em forma de um chanel , seu corpo era magro.
Era difícil de acreditar que ela também enfrentava demônios, ela parecia ser tão frágil, doce e indefesa.
_ Obrigada. Estou satisfeita. _ Sorri.
Ela corou de repente e sorriu abaixando o olhar. Dava para ver que ela sofria de timidez.
_ Estarei te esperando no porão Angélica. _ Disse Kaia saindo.
Era a primeira vez que ela falava comigo, sua fala era calma e pausada, diferente da propaganda que transmitia. A imaginei como um general dando ordens
Tomei o resto do meu suco devagar, agora sim as coisas iriam pegar ritmo, eu não sabia que tipo de treinamento seria, mas descartei a chance de ser algo tranquilo e fácil.
_ Espera eu te mostro o caminho. _ Disse Katrine com um pedaço de pão maior que sua boca podia abrigar, quando me levantei.
Queria dizer que não precisava, era só dizer que eu acharia, ou tentaria, mas minhas palavras foram substituída por outras.
_ Deixa que eu a acompanho. _ Disse a pessoa do meu lado esquerdo.
Daniel me levou até o porão, o que não era exatamente um. A palavra certa era uma academia pessoal. Havia muitos aparelhos, esteiras, pesos e até um pequeno ring onde estava Kaia que nos olhava com uma expressão severa. Eu achava impossível que fosse raiva ou algo mais profundo, ela nem me conhecia, então era completamente inaceitável que eu tivesse despertado algo assim nela.
_ Obrigada. _ Eu desci aos poucos as escadas que havia.
_ Não por isso. _ Ele respondeu em um tom quase de riso.
Ele era estranho. Quando me aproximei do ring Kaia fez um sinal para que eu subisse, passei meio sem jeito entre as cordas.
_ Já brigou com alguém antes?

9.Consequências

Antes que o meu despertador tivesse chance de me acordar, Katrine já havia feito isso.
_ Acorda Cinderela. _ Ela disse puxando os meus pés.
_ Não era Bela Adormecida?
_ Era? Sei lá elas são todas iguais. Você dorme como um anjo. _ Ela sorriu.
_ Isso quando durmo, sou a insônia em pessoa. Só conseguir dormi com a ajuda de Córius.
_ Ele não é um amor? _ Ela juntou as mãos rindo.
_ Tão curioso. _ Rir. _ Tudo isso pra fuçar as minhas lembranças em paz.
Ela riu alto
Troquei-me e descemos para tomar café.
Havia uma grande mesa de vidro decorada com cestas de frutas, pão, chaleiras, jarras com variados sucos, bolo e até uma garrafa térmica que deveria conter café. Todos já estavam ali, e nos aguardava.
_ Bom dia Angélica! _ Cumprimentou Karmos.
_ Bom dia. _ Respondi
Sentei-me a sua frente com Katrine ao meu lado direito e Daniel ao lado esquerdo. Havia mais lugares a mesa, mas eu queria ficar próxima a Katrine, ela era meu bote salva - vida ali.
Senti-me um animal acuado, apesar de parecerem concentrados no café eu sentia seus olhares em mim. Eu era o bichinho novo ali que despertava certas curiosidades.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Deitei-me naquela cama atraente, fiquei por um minuto olhando o grande lustre, as formas do vidro era interessante, losangos e estrelas, dava pra ver que houve um bom trabalho no design.
A grande janela do meu quarto dava acesso a minha visão ao jardim, ao pequeno labirinto e a alguns cachorros que estavam soltos. Pensei se Kaia estaria ao meio deles, afinal ela podia se transformar em qualquer animal e eles cuidavam da segurança.
Fui atacada de novo por uma dor de cabeça insuportável e por pontadas. Isso já havia um significado. Córius. Ele estava na minha cabeça, fuçando as minhas memórias.
“Pare de fuçar a minha cabeça!” Exigir esperando que ele ouvisse e me deixasse em paz, mas não adiantou. Fiquei tonta e me sentei na cama, isso era invasão.
Minha cabeça ficou pesada, com uma pressão estranha, foi impossível ficar de olhos abertos. Minhas pálpebras caíram pesadas e escutei um “fique tranquila” fraco no fundo.
O ruim de dormi obrigado e que você não tem sonhos, o bom que também não se tem pesadelos. Apenas visa o nada, a escuridão feita por suas pálpebras além de sentir seus olhos obrigatoriamente pressionados e sua mente exausta ser poder ser utilizada.

( _)
Sozinha no quarto desfiz minhas malas e acomodei no grande guarda-roupa, as minhas poucas roupas e o meu colar.
Organizei as coisas na penteadeira e no banheiro. O banheiro era bem simpático, havia uma banheira muito atrativa, eu já tinha noção do que fazer nos momentos vagos. Eu, banheira, água e espuma.
Tomei um banho relaxante e calmo, não parecia que estava ali naquele lugar, em outra dimensão. Nem parecia que tinha acontecido tudo aquilo. Mortes, demônios, pessoas estranhas, outro lado.
Nunca pensei que o “outro lado da vida”, fosse esse, sempre imaginei algo espiritual, algo anormal. Apesar de que aquilo não tinha nada de normal.
Nossa! Mas aquilo estava mesmo acontecendo? Um lado gritava que não e queria que eu acreditasse que era só mais um sonho maluco, uma ilusão. Enquanto o outro lado sussurrava que sim, uma segurança que me perturbava. Como ela podia ter certeza?
Sair da banheira, antes que meu corpo começasse a derreter, meus dedos já estavam enrugados. Vestir minha camisola cor de pérola, a qual muitos já conheciam. De repente uma pergunta me surpreendeu. Será que todos dormiam nesse corredor? Eu sabia que Katrine estava no quarto ao lado, mas como era a distribuição dos outros?
A cama era tão macia e confortável como aparentava, tive a doce ilusão que ali naquela cama o sono iria me pegar de jeito, mas não. Tive vontade de sair para fazer uma excursão pela casa, mas descartei a ideia, se eu encontrasse com Daniel ou com a Kaia eu ficaria sem jeito.
Lembrei que eu tinha um diário, uma agenda coberta com cetim e uma caneta coberta com o mesmo material, Já fazia um bom tempo que eu não escrevia, a ultima data contava que as coisas estavam às mesmas, a única novidade era que eu seria estrutura de Sara, tirando isso a minha vida era monótona como a da maioria de algumas pessoas ou pior. Eu escrevia para depois quando eu fosse mais velha e não lembrasse pudesse curtir as minhas fases.
“Onze de Maio de 2000”. Escrevi com a minha melhor letra. “Inacreditável”_ Escrevi forte.
Escrever o quê? Que palavras usar e de que modo esclarecer?
Algo me disse que não precisava se escrito, isso era uma coisa que nunca seria esquecido. Mas eu tinha outro desejo, deixar para outras pessoas, daria um bom livro de ficção.
Comecei contando sobre o jantar da Monte Negro, a comemoração, depois a morte dos meus amigos, os demônios, e isso aqui, essa nova dimensão. Era definitivamente muita coisa, usei três paginas inteiras, depois guardei dentro da gaveta da penteadeira.
_ Feche os olhos. _ Ela pediu.
A obedeci, fechei os olhos apertado. Sentir meu estômago girar e depois uns empurrões dentro de mim. Tive a sensação de está sendo invadida, em seguida uma dor de cabeça forte me atropelou.
_ Abra os olhos. _ Ela pediu.
Ao abrir os olhos eu me vi. Eu estava olhando para mim mesma, mas o que eu estava fazendo lá, se eu estava ali me olhando?
_ O que é isso? _ Perguntei me encarando.
_ Eu sou você e você é eu.
Eu que estava agachada me levantei e fui ao espelho oval do quarto. Mais não foi a minha imagem que refletiu, era a de Katrine. Cabelos loiros, olhos azuis celestes, corpo atlético. Apesar de um dia eu já ter sonhado em ser assim, eu não me sentia bem.
Sentia-me espremida, era como se eu estivesse em uma lata de sardinha.
De repente o estômago girou de novo. Não sabia se era o meu ou de Katrine e me deu uma louca vontade de vomitar e de repente eu estava ali de volta ao meu corpo sem nenhum rastro de desconforto, mas um pouco zonza.
Ela me olhou de um jeito estranho, talvez a experiência tivesse sido bem estranha com ela também.
_ Isso é legal, mas eu prefiro está aqui. _ Eu disse tentando quebrar o clima desconfortante.
_ Idem. _ Ela sorriu sem graça.
_ Aconteceu algo que normalmente não acontece?
Ela mim olhou de uma forma curiosa e espantada, me senti um bichinho novo no zoológico.
_ Essa coisa, digo a marca. Ela queima não e? _ Ela apontou para o meu ombro.
_ Sim, você sentiu?
_ Foi como se eu estivesse pegando fogo. _ Ela parecia assustada. _ E estava tão apertado que parecia que estávamos dividindo o mesmo corpo. _ Ela finalizou.
_ Isso e estranho?
_ Muito. _ Ela declarou. _ Eu vou deixar você descansar. Caso apague, amanhã pela manhã você tem treino com a Kaia. _ Ela fez uma careta ao dizer o nome da morena. _ E depois com Karmos.
Paredes douradas, um grande lustre no teto, móveis de mogno, o sofá tinha estofado vermelho carmim, na ponta da grande escada havia uma garota.
Ela desceu delicadamente cada degrau, como se estivesse dançando, com a graciosidade de uma bailarina. Ela tinha os cabelos bastante negros como os de Daniel e curto, seus olhos eram acinzentados, sua pele era clara e parecia delicada, ela nos recebeu com um sorriso tímido. Ela parecia uma boneca de porcelana.
_ Essa é Anita, Angélica. – Karmos apresentou.
_ Seja bem vinda. _ Ela disse olhando para baixo com as bochechas coradas.
_ Obrigada.
_ Ajude Angélica se instalar Katrine. _ Pediu Karmos.
_ Vai adorar o quarto. _ Ela disse pegando minhas malas.
Ou ela era realmente forte, ou era eu a fraca demais.
Subimos a grande escada dourada, um carpete vermelho cobria os degraus, era fantástico. No corredor havia quadros expostos nas paredes com molduras antigas e bem feitos. Aquilo me lembrava filmes de antigamente, da era medieval.
Ela me levou ao ultimo quarto do corredor.
_ Esse será seu quarto. _ Ela anunciou abrindo a porta.
Paredes de tom perola cintilante, moveis de mogno lustroso, cortinas de renda fina do tom do quarto, lustre com peças douradas, uma grande cama no centro que demonstrava ser macia e confortável e um tapete felpudo em frente à cama em cima do chão brilhante.
_ Nossa! _ Foi o único jeito de me expressar.
_ Meu quarto fica ao lado. _ Me informou ela. _ Precisa de ajuda com as roupas?
_ Não eu posso fazer isso sozinha. _ Tentei não ofender.
_ Então eu vou te deixar relaxar.
Quando ela estava saindo me lembrei de uma coisa. Ela disse que quando estivéssemos em casa iria me mostrar à coisa de “mudar de corpo”.
_ Katrine, espera. _ Chamei.
Ela voltou ficando em minha frente.
_ Você tem que me mostrar o que faz.
Ela sorriu e se agachou á minha frente.
_ Ele e Karmos foram arrumar uma condução.
Logo Córius e Karmos apareceram com carros, o de Córius era tão vermelho quanto seu cabelo e o de Karmos era azul. Daniel e Kaia entraram no de Karmos.
_ Venha Angélica. _ Chamou Katrine.
Nos duas ficamos nos bancos de trás, ela estava calada, e eu estava observando a nova paisagem com atenção, a qual agora eu pertencia.
O lugar estava quase deserto, havia algumas pessoas que vagavam vagarosamente pelas ruas com roupas muito gastas e sujas. Enquanto o carro passava elas olhavam atentamente, elas podiam não me ver, mas eu as via e me sentia mal por elas estarem assim. Elas estavam tão decadentes quanto o lugar.
_ É por causa dos demônios que as pessoas estão assim? _ Quebrei o silêncio.
_ A culpa não e exatamente dos demônios. _ Respondeu Córius. Era a primeira vez que ele falava comigo. _ Os demônios não aparecem sozinhos eles são invocados. _ Continuou ele. _ Há um grupo, uma ceita chamada “Serpentes Negras” ela e adoradora do Diabo, seus lideres supremos são os que cultivam essas coisas.
_ Por que fazem isso?
_ Por causa disso tudo que você ver. _ Foi à vez de Katrine responder. _ Eles adoram a destruição, a dor, o sofrimento, a violência. Eles sentem prazer ao ouvir os gritos de agonia da cidade. São os verdadeiros queridinhos do Diabo.
Os olhos de Katrine brilhavam enquanto ela falava, seus punhos estavam fechados e as veias de suas mãos mostravam a força usada.
_ Há quanto tempo lutam contra isso?
_ A maioria de nós está a cerca de quatro anos, Kaia era a mais nova com apenas dois anos. Daniel e Karmos estão nisso desde a infância, coisa de família
Isso explicava o porquê de eles nunca aparecerem, eles moravam ali e apenas visitavam o outro lado por causa dos negócios de família.
Os dois carros pararam juntos em frente a um grande portão que se abriu automaticamente para nós.
_ Essa e a casa dos X-Men? _ Brinquei.
_ Não. _ Ela disse sorrindo. _ É a torre da liga da justiça.
Um grande jardim bem verde, trepadeiras cobrindo o muro, no centro do jardim havia uma fonte com uma estátua segurando um vaso. Havia uma grande porta de madeira clássica, a decoração era fantástica, achei que viria cores sombrias, coisas de pedra ou aço, mas era divina. Parecia coisa de filme antigo.

8. A segunda dimensão

Parecia uma ferida, um corte e estava ali no ar, no centro da sala.
_ O que é isso? _ Perguntei
Estava refletindo a nossa imagem, emitia uma luz dourada e brilhava como uma estrela.
_ Nossa passagem para fora daqui. _ Respondeu Karmos. _ Preparada?
Aquela coisa pequena, estreita e esquisita, era o que me faria ir para a outra dimensão. Eu duvidava.
_ Não. _ Fui sincera. _ mas não temos tempo para preparos.
Tempo significava mortes. Ele foi o primeiro, depois Córius, Kaia e Daniel.
_ É a sua vez. _ Disse Katrine. _ Irei depois de você.
Respirei fundo, era agora ou nunca. Levantei a mão e caminhei em direção ao portal. Minha mão foi a primeira a atravessar e alguém a pegou, puxando levemente. O portal se estendeu ficando do meu tamanho.
Era bastante esquisito, era como uma membrana eu pude sentir ela se rompendo quando passei. No outro lado Daniel estava segurando minha mão. Ele olhou nos olhos por um momento antes de solta – lá e ir ficar ao lado de Kaia.
_ Como foi? _ Perguntou Katrine aparecendo. Em seguida o portal se fechou e desapareceu.
_ Estranho.
Estávamos na rua cercada de grandes prédios velhos e decadentes, o céu estava cinzento e uma chuva fina caia.
_ Onde está Córius?_ Perguntou Katrine á Daniel.