sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O que? Com quem?
Quase cair do sofá. Tia Danna era separada, depois que se separou do tio Carlos ela ficou sozinha por um bom tempo, isso foi antes do meu pai morrer. Quando fui morar com ela acabamos tampando o buraco uma da outra.
_ Ele se chama Stephan é um homem maravilhoso e pelo o que tudo indica me ama de verdade, ele é médico.
_ Bem, se essa é a sua escolha eu apoio. Espero ganhar um convite.
_ Claro que sim, não somente ele como as passagens.
Depois de ela me contar dê seus planos para o casamento o assunto voltou pra mim. Como sempre ela queria saber de tudo, principalmente de como andava meu coração.
_ Está aqui e está batendo então acho que está tudo bem com ele.
_ É lógico que está aí querida, mas tem algum morador?
_ Não, ainda está com a plaquinha de “vende-se”.
Tia Danna era como uma verdadeira mãe pra mim e como toda mãe as vezes ela merecia ser cortada.
_ Tia tenho que ir dormir. Amanhã os Monte Negro irão jantar no restaurante e eu irei atendê-los.
_ Sério? Os argentinos? Eles quase não aparecem. _ Ela disse surpresa. Era uma reação comum a todos.
_ Sim.
_ Pelo motivo nobre irei deixá-la fingir descansar. Foi ótimo falar com você linda, sinto muita saudade.
_ Eu também tia, todos os dias.
_ Assim que eu puder irei vê-la, sem isso a ordem é que se cuide e seja feliz.
_ Entendido capitã._ Eu disse engrossando a voz.
Ela riu.
_ Serio anjo faça isso por você mesma. Não deixe a chance lhe escapar. Bem, tenha uma boa noite e sorte no jantar. Eu te amo.
_ Também te amo.
Depois do telefone fiquei melhor, as coisas parecia normais, o ar pesado havia aliviado e tive cabeça para fazer a minha terapia milagrosa.


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Tinha aquele bendito jantar, o qual eu deveria passar o tempo todo sorrindo e sendo gentil com um bando de almofadinhas que tinham uma péssima fama. Os interessados em saber apenas em como anda a fama e os lucros do restaurante.
Monte Negro, o nome ecoou na minha cabeça. Era a única coisa que eu sabia, além da simpatia da família . Deviam ser bonitos, bem vestidos, talvez magros ou não.
O telefone tocou, o despertador marcava meia noite, fiquei em duvida em atender ou não, mas por fim resolvi atender eu não ia me privar por causa dessas coisas estranhas que estavam me atacando, podia ser importante.
_ Alô?
_ Anjo?_ A voz disse incerta.
_ Tia. _ Ela é a única que me chama assim.
_ Querida. – Ela disse com um sotaque romeno. _ Como está linda?
_ Bem. _ menti.
_ Por que será que seu “bem” não me convenceu?
_ Deve ser a sua super proteção falando mais alto.
_ Talvez, como está tudo aí?
_ Normal, como sempre_ mentir novamente. _ E aí?
_ Uma loucura e foi por isso que te liguei, talvez não vai dá para eu ir aí esse ano.
_ Por quê?
_ Está aparecendo um surto de deformações, parece ser ataque de alguma ceita. Todos os dias há pelo menos três casos e pelo o ritmo que anda as coisas não terei férias.
_ Não sabem o motivo dos ataques?
_ Não, a única coisa que suspeitam é de rituais.
_ Rituais?
_ Sim, há muitas crenças aqui.
_ Entendo, então só a vejo ano que vêm?
_ Talvez querida, tenho novidades para você. _A voz dela mudou. _ Eu iria te contar quando eu estivesse aí, mas como não sei se será possível, terei contar por telefone mesmo.
_ O que é? Conheceu algum vampiro?_ Brinquei.
_ Engraçadinha. _ Ela riu. _ Não, apenas um simples mortal. Anjo eu vou me casar.
Não havia ninguém, apenas um buquê de rosas largado na porta. No buquê havia um cartão endereçado a mim, as rosas eram bem bonitas algumas em botões, outras estavam desabrochando. Era engano, eu nunca recebia flores ou podia ser uma pegadinha, ultimamente eu estava sendo o alvo.
Levei as flores ao nariz para sentir seu perfume e me surpreendi ao sentir um cheiro fraco mais familiar, não era o cheiro natural de uma rosa. Era um cheiro conhecido e estava em todo o ramo.
Enxofre. Meu cérebro acusou dando flash back do meu pesadelo. Meu ombro começou a queimar e estava se aprofundando como no sonho.
O que estava acontecendo? O que era aquilo?
Joguei o buquê na pia e taquei fogo, o fogo se alastrou rapidamente não deixando rastros. Havia um cartão que estava destinado a mim com uma letra atrapalhada que dizia “Não esqueça de ouvir suas mensagens”
Sim, havia uma mensagem, o botão vermelho piscando indicava isso.
Medo, eu estava com medo, era a mensagem transmitida para todo o meu corpo. Eu estava com medo que aquilo que eu achasse improvável fosse provável. Minhas mãos estava trêmulas, meus movimentos lentos, quando apertei o botão me afundei no sofá. Primeiro houve uma respiração pesada como da ultima vez e depois uma voz rouca e aguda disse “Ainda não”.
Certo. Ao menos que eu estivesse louca eu havia acabado de escutar na vida real a voz da coisa que apareceu no meu sonho e eu havia acabado de sentir o mesmo cheiro que minha mente havia planejado.
Eu tinha um problema serio e as pessoas estavam se aproveitando disso, eu precisava saber o que estava acontecendo, antes que isso me deixasse definitivamente louca.
Nunca pensei que um dia iria gostar dá ideia de não dormi. Agora eu estava na cama com meus braços ao redor das pernas, parecendo uma criança assustada sem ter o que fazer naquela forma protetora. Não conseguia pensar em nada, minha mente era um vazio total. Eu podia ouvir claramente meus batimentos cardíacos, estavam desajeitados e não seguiam um ritmo. Minha respiração estava lenta e às vezes sem perceber eu parava de respirar e meus pulmões queimavam.
Alguma parte do meu cérebro me lembrou do grande jantar de amanhã á noite. Lembrou-me que eu tinha que está bem preparada para o evento, que ninguém ia gostar de ver uma recepcionista com fundas olheiras e nem com cara de zumbi. Eles iriam sair correndo e tchau emprego.
_ Droga!_Murmurei.
_ A própria. _ Ela suspirou. _ Tenho que entrar antes que ela comece a gritar sem parar.
_ Tudo bem, tenha um bom fim de semana.
_ Obrigada, boa sorte no jantar.
_ Eu vou precisar, até segunda.
_ Até segunda. _ Ela acenou e entrou.
_ Sara!_ Chamei.
Ela voltou alguns passos.
_ Caso queira conversar, sabe onde me encontrar.
Ela balançou a cabeça e sorriu e então subiu.
Decidir que Sara era uma boa garota, mas algo me dizia que não era só isso, que era mais do que eu imaginava. Ao sair do bairro topei com duas viaturas da policia militar, eles estavam patrulhando.
No caminho de casa comecei a imaginar como seria o jantar e todas as teorias eram deprimentes. Não que eu fosse pessimista, mas todas as minhas ideias otimistas não eram realistas.
Os Monte Negro tinham fama de serem requintados, observadores e imunes a qualquer boa ação sem preparação quando se tratava de negócios, principalmente negócios de família que dão muitos lucros. Leandro fez questão de deixar isso bem claro depois de repassar comigo regras e regras de atendimento. Ele disse que apesar de tudo era uma coisa fácil e rápida, mas que pelo peso se tornava lento e muito difícil e que com isso os funcionários se atrapalhavam com tanta pressão.
Caso por ironia do destino desse errado, um estágio em algum hospital da cidade pagaria a minha meia bolsa na faculdade.
Meu bairro ao contrário do Siqueira não tinha uma faixa dando boas vindas, havia apenas uma placa o anunciando, eu morava praticamente no centro do bairro. Antes de ir pra casa passei no supermercado, suco e biscoitos seria meu jantar.
Guardei meu carro na garagem e entrei pela porta dos fundos, Lira me esperava na porta ao lado de sua tigela, estava com fome. Coloquei um pouco de ração na sua tigela e coloquei as compras na mesa e fui para o quarto. Estava tudo normal, do jeito que eu havia deixado, era bem melhor assim.
Enquanto eu tomava banho escutei a campainha soar três vezes seguidas, terminei rapidamente e desci enrolada na toalha.
_ Qual?
_ Se eu sou uma drogada?
_ Você não é.
_ Como pode ter certeza?
_ É uma drogada?_ Perguntei
_ Não. _ Ela respondeu.
_ Viu?
Ela riu.
_ Em que rua mora?
_ Beco 30, casa C.
O Beco 30, na verdade era uma rua normal, havia muitas casas todas elas bem juntas uma á outra e pareciam está no mesmo lote, cada bloco dessas casas significava uma letra. O bloco C não era constituído de casas era um velho apartamento de quatro andares de um tom amarelo que estava em alguns pontos mofado, a maioria das janelas estava quebradas. Parei o carro na porta.
_ Em que andar você mora?
_ No terceiro. _ Ela disse pegando a bolsa e abrindo a porta do carro. _ Obrigada pela carona e me desculpe se fui grossa com você, mas é que eu preciso desse emprego.
_ Mentiu o endereço.
_ Apenas não contei a verdade. Eles não iam dá emprego a uma moradora daqui.
Ela parecia envergonhada pelo que fez, mas ela estava certa.
_ Não se preocupe, não vou contar nada. Onde disse que morava?
_ No centro, perto dos prédios.
_ É quase uma verdade.
Ela sorriu.
_Sara! _ Uma mulher gritou de um das janelas quebradas, não deu pra vê-la muito bem.
_ Sua mãe?

3. Familiar

Sara morava na parte humilde da cidade, num bairro atrás dos grandes prédios do Centro, Siqueira era o nome dele.
Ela estava no banco de trás e não estava nada à vontade, estava de braços cruzados às vezes ela olhava pela janela, vendo onde estava, alisava os braços e de vez em quando olhava pra mim. O olhar dela encontrou o meu, duas vezes, pelo jeito estava arrependida de ter aceitado minha carona.
_ Está tudo bem? _ Perguntei quando o sinal fechou.
Ela se assustou com a minha pergunta, apenas balançou a cabeça afirmando que sim. Algo me dizia que era mentira.
_ Tem certeza?
_ Já disse que sim. _ Ela cruzou os braços confirmando meus pensamentos.
_ Vire a direita depois de passarmos pelo os grandes prédios. _ Ela disse quando o sinal abriu e em seguida abaixou a cabeça.
Será que era isso? Ela estava com vergonha do lugar onde ela morava.
_ Sei onde é o Siqueira._ A olhei pelo retrovisor.
_ Sabe? Pra quem mora no Mangabeiras, isso é estranho.
Sim, ela estava com vergonha do seu bairro.
_ E o que tem isso? É um bairro normal, como qualquer outro.
_ Não é, e você sabe disso. O governo só não o coloca em extinção com medo de prejudicar os grandes prédios.
O bairro Siqueira era realmente uma pedra no caminho do governo e tinha alguns problemas com roubo e drogas, a maiorias das pessoas só moravam ali porque não tinham opção e nem condição de alugar ou ter uma casa na cidade ou longe dela, os preços são absurdos. Se minha tia não tivesse me obrigado a cuidar da casa dela eu teria procurado um lugar ali.
_ Então é por isso que você está assim? Por causa do bairro?
Ela não respondeu, devia ter algo mais. Virei à direita atrás dos grandes prédios e avistei a entrada do bairro, uma faixa velha dava as boas vindas. Acolhedor ele era.
_ Não vai fazer a pergunta importante? _ Ela perguntou.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Apareceram alguns clientes atrás de sobremesa, o restante do turno foi monótono, apareceu quatro ou cinco clientes nada mais que isso.
_ Já vou Angélica. _ Avisou Sara.
_ Espera. Se quiser posso te dá uma carona meu horário termina em quinze minutos.
Na verdade já havia terminado, mas o quinze minutos era o tempo do atraso da Daiana.
Ela pensou por um momento e então balançou a cabeça positivamente.
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No fim a coisa ficou entre eu e Daiana e quem iria decidir era a equipe formada.
Os primeiros a votarem foram os ajudantes do chefe, eles se dividiram entre a nós, depois foram os garçons e eles fizeram o mesmo. Daiana ganhava de mim por um voto e agora Leandro e Fernando eram os únicos que faltavam. Os dois foram para um canto e começaram a conversar, iriam fazer o voto decisivo juntos, votando na mesmo.
_ Boa sorte com o jantar. _ Eu disse a Daiana.
Estava certa que ela ia ser a escolhida, ela era do turno da noite e tinha mais tempo. Ela apenas sorriu como resposta, acreditava no mesmo resultado.
Eles ficaram lado a lado e então Leandro começou a falar:
_ As duas sabem quem são ótimas funcionarias, mas infeliz temos que escolher.
_ A que não for escolhida não se sinta menor, terá outras oportunidades. _ Disse Fernando.
“Porque eles não dizem de uma vez? Ficam fazendo drama.” Pensei.
_ Nós escolhermos a ideal, a qual estamos depositando o nome Gômer nas mãos. _ Disse Leandro.
_ Nós escolhermos você, Angélica. _ Disse Fernando finalmente.
Não acreditei no que ouvi. Eles haviam me escolhido? Perto de Daiana eu era tão inexperiente como Sara e eles haviam colocado em minhas mãos a responsabilidade de ser o cartão-postal do restaurante.
_ Eu?
_ É a única Angélica daqui. _ Respondeu Fernando.
Daiana estava tão surpresa quanto eu, ela me olhava e olhava pra eles confusa.
_ Não querendo criticar a decisão de vocês, mas porque ela? Angélica ainda é uma novata e pode ser despedida. _ Disse Daiana.
_ Sabemos disso, mas vamos arriscar. Angélica tem uma ótima conduta e realmente ela tem uma simpatia com os clientes. _ Disse Leandro.
_ Além do mais, ela nunca chega atrasada. _ Completou Leandro.
Depois disso ela não disse mais nada e eu sabia que não poderia recusar, ela não iria conseguir mesmo.
_ O segundo turno está dispensado. _ Disse Leandro contente.
Depois que os funcionários foram embora subimos as cortinas e abrimos as janelas, eu, Sara e os outros vestimos nossos uniformes e começamos o nosso expediente.
Estava explicado o motivo de tanta inquietação. Os Monte Negro só viam no restaurante uma vez ao ano, no ano passado eles não vieram e obviamente esse ano eles virão duas vezes pior.
_ Não são argentinos, apenas vivem lá. _ Ele me corrigiu
_ E então o que vamos fazer? _ Perguntou Bruno.
_ A pergunta certa seria quais irão fazer? _ Disse Fernando.
_ Vamos fazer algo democrático _ disse Leandro voltando. _ Vamos fazer indicações e justificá-las e depois votação.
Todos concordaram. Ele pegou papel e caneta e começou anotar algo.
_ O chefe será Fernando, além do mais é o único. Quero todos os ajudantes aqui amanhã. _ Ele disse fazendo um esquema. _ Preciso de todos os garçons, os Monte Negro irão trazer amigos então já perceberão a gravidade da situação.
_ Apenas os garçons?_ Perguntou Daiana que estava ao lado de Leandro.
_ Sim. Entre as mulheres iremos escolher uma para exercer o papel mais importante, que vai ser o cartão postal do restaurante.
Todas se olharam, era uma boa chance da escolhida tentar subir e ganhar a simpatia dos donos ou perder o emprego. Dois pesos.
_ Os que não fazem parte da equipe formada terão voz também. Vamos começar.
Ele começou com os que estavam fora equipe tirando as concorrentes. Não me importava com isso, com o agradar os “Chefões”. Eu só precisava desse salário, ele me sustentava e pegava minhas contas e o mais importante me fazia independente. Mais três anos ali que era o tempo que faltava para eu me formar em Medicina e eu estaria em algum hospital salvando vidas.
Os que estavam fora começaram e muitos votaram em Daiana, ela tinha mais experiência e mais tempo no Gômer. Os outros se dividiram nas outras garçonetes e até Sara participou.
_ Angélica. _ Ela disse.
_ E por que _ Perguntou Leandro.
_ Pelo o que vi, ela faz um bom trabalho e os clientes chamam pelo atendimento dela.
Alguns alunos estavam dormindo, outros estavam conversando entre si e poucos prestavam atenção eu era a que fingia estava prestando atenção. Meus pensamentos estavam longe, em outro estágio.
Quando a palestra finalmente terminou tive que correr para o trabalho, havia durado mais tempo que o combinado. As vagas para funcionários do restaurante estavam lotadas, o que não era normal já que naquele turno não havia muita gente.
As cortinas de veludo verde-musgo caiam pela porta da frente e pelas janelas, o que indicavam que estava fechado. Encaixei meu carro num espaço apertado entre um Uno e um Vectra e entrei pelos fundos.
Lá dentro havia uma discussão. Leandro estava inflamado e falava mais alto do que o normal. Alguns funcionários já alterados estavam de pé respondendo á altura. Eu estava parada observando, minha cabeça seguia o ritmo da discussão.
_ Mas isso é impossível, um jantar desse tem que ser avisado dias antes e não um dia antes. _ Reclamou Fernando o chefe de cozinha. _ Não tenho a mínima noção de que prato servir.
_ Eu já lhe disse Fernando, você não terá que se preocupar com novas criações. _ Leandro disse. _ Apenas temos que nos preocupar com a recepção.
_ O que seria? _ Fernando perguntou provocante.
A expressão do Leandro era a mesma de ser ver um vulcão preste a entrar em erupção, dava pra ver o sangue fervendo.
_ Algo especial _ Eu disse tentando poupar a todos que o vulcão Leandro entrasse em erupção e chamando atenção de todos.
_ Isso é lógico Angélica tem que ser algo muito especial. _ Replicou Leandro.
_ Boa tarde pra você também. _ Sorrir e fui me sentar em uma das mesas perto de Sara.
Leandro respirou fundo e pediu com um gesto para Fernando se acalmasse.
_ Pra você que chegou agora Angélica _ ele veio andando em direção da minha mesa. _ Estamos decidindo o que fazer para um jantar importantíssimo amanhã à noite.
_ Nossa! _ Fiz cara de surpresa. _ Por acaso o presidente vai vim jantar aqui?
Os funcionários riram, mas Leandro não gostou nada da minha piadinha, vi a veia do pescoço dele pular.
_ Não senhorita, apenas o cara que paga o meu salário, o seu salário, os nossos salários. _ Ele fez um circulo no ar. _ Os Monte Negro estarão aqui amanhã para averiguar seus negócios.
_ Sanduíche natural? _ Cássio perguntou. Ele estava comprando o meu lanche.
_ E suco de mamão com laranja. _ Acrescentei.
Ele saiu da fila amarrotado de pedidos e entregou aos seus amigos de Direito e veio se sentar ao meu lado.
_ Aqui. _ Ele colocou a bandeja á minha frente.
_ Obrigada.
Geralmente eu não comia nada, mas como a única coisa que meu estômago viu foi à salada de frutas da noite passada, o meu organismo estava me cobrando. Cássio comprou um pastel que chegava a brilhar de tanto óleo e uma garrafa de meio litro de coca cola, ele viu que eu estava olhando e fechou a cara.
_ Que é?
_ Enfarto do Miocárdio. _ Respondi.
_ Morro feliz!_ Ele deu uma grande mordida no pastel, chegou até escorrer óleo.
_ Diz isso agora, quando estiver numa mesa de cirurgia vai praguejar por esse dia.
Ele me ignorou e deu um gole ainda maior do seu refrigerante. Dei uma mordida no meu sanduíche, o pão estava seco demais e o suco doce de mais, mas mesmo assim continuei a comer eu não podia trabalhar sem ter energia.
_ Que cara é essa?_ Ele perguntou empurrando sua bandeja e pegando o sanduíche da minha mão.
_ De quem conseguiu dormi e teve pesadelo.
_ Veja pelo lado bom, pelo menos conseguiu dormi.
_ É. _ Admitir.
_ Quer dividir?_ Ele quis saber.
_ Eu não saberia explicar, nem eu entendi.
Ele começou a rir e eu junto, um pouco sem sentindo.
Depois da aula sobre “Alergia e seus mistérios”, tivemos uma palestra com o Dr. Carlos um dos médicos conceituados do hospital da cidade. Nos cinco primeiros minutos da palestra ele falou das doenças mais aplausíveis e mais raras que já haviam passado pelo hospital e nas duas horas ele nos passou um sermão sobre o branco da roupa de um médico, o quanto era essencial e o quanto ele dizia sobre o médico.
De repente ela parou, dei alguns passos a frente e então parei e olhei para ela, seus olhos estavam arregalados e o medo gritava por eles, sua expressão era de terror.
_ O que há? _ Perguntei.
_ Eles estão aqui. _ Ela respondeu.
_ Eles quem? _ Eu olhava para os lados procurando. Meu ombro esquerdo começou a queimar, era uma queimação intensa, parecia se afundar na minha carne cada vez mais.
_ Eles! – Ela apontou para cima.
Os batimentos do meu coração diminuíram e meu corpo se recusou a me obedecer, eu queria olhar para cima, mas meu corpo não deixava.
_ Corre Angélica! – Ela gritou e em seguida começou a correr.
_ Não consigo!_ Gritei, mas minha voz saiu sem som. Sentir um vento forte se chocar contra minhas costas e ouvir um barulho estranho que parecia um bater de asas.
Meu corpo estava paralisado e a queimação se afundava cada vez mais.
_ Eu vou morrer. _ Pensei.
Um cheiro forte de enxofre tomou conta da brisa suave e fresca e uma voz rouca e aguda quebrou o silêncio.
_ Ainda não. _ A voz soou próxima ao meu ouvido.
Na mesma hora o despertador tocou e eu acordei com a sensação estranha do pesadelo, meu ombro esquerdo queimava, mas era a queimação leve de sempre.
Tomei um banho frio, fiquei um bom tempo debaixo do chuveiro massageando meu ombro que ainda queimava. A minha vida era realmente um sistema não compensatório, eu custava a dormi e quando conseguia eu tinha pesadelo.
Na faculdade o tempo passou lentamente era aula de Patologia sobre Alergia, a aula estava boa, era eu quem não estava, eu parecia um fantoche largado num canto escorada na parede com o olhar distante.
_ Angélica, qual é o outro nome dado a Alergia?
Foi com muito esforço que mirei a apostila e respondi.
_ Hipersensibilidade.
_ Isso _ ele confirmou. _ É conhecida há séculos embora continue a encerrar mistérios.
Enquanto fazíamos o exercício à sala estava quieta, dava pra se ouvir o tique-taque do relógio da parede central. Eu não sabia o porquê de eu está tão incomodada com o pesadelo, era apenas uma projeção da minha mente, uma fantasia, uma ilusão. O que importava era que eu havia dormido ou pelo menos era o que eu pensava.

2. Visitante Oculto

Minha casa ficava escondida da cidade, meu bairro, o bairro Mangabeiras era que se chamava de “parte verde”, fica aos pés da Serra do Curral. Tinha poucas casas já que a maioria das pessoas prefere morar em apartamentos no centro da cidade, onde tem acesso rápido ao mercado.
A casa da minha tia era a maior dali por isso constantemente eu tinha que tomar certos cuidados.
Assim que pisei em meu território joguei minha mochila na sala e subi para o quarto eu precisava tomar um bom banho.
A janela estava aberta, minha cama estava atrapalhada e havia pegadas de lama por toda parte. Abrir rapidamente a ultima gaveta do guarda-roupa em meio minhas peças intima havia uma caixa felpuda a qual guardava o crucifixo de prata com rubi que minha tia havia me dado era a única joia que eu tinha. Sei que a casa não era o refúgio certo pra ela, mas ninguém sabia que eu tinha. Fui olhar o resto da casa, estava tudo em ordem, nada estava fora do lugar e eu não entedia isso.
Liguei para a polícia, mas a única coisa que fizeram foi uma ocorrência, isso antes de tentarem me convencer que eu havia deixado à janela aberta, a cama não feita e que as pegadas eram minhas.
Arrumei o quarto e depois fiz uma travessa de salada de frutas e enquanto eu comia ouvia as mensagens deixadas no correio de voz. Tinha dois recados.
“Oi Angélica é a Paula, só liguei pra lembrar que amanhã tem uma palestra importante, não falte. Beijos.”
Havia realmente me esquecido da palestra, era de um médico importante. Não havia outro recado, depois do da Paula ouvir apenas uma respiração pesada, alguém querendo me pregar uma peça como se já não bastasse a visita.
Fiquei altas horas da noite vendo TV e quando fui dormir não precisei de terapia, quando dei por mim já estava dormindo de verdade.
Eu estava caminhando por uma trilha com Sara a garota nova do restaurante. Nós estávamos conversando e rindo muito, parecíamos ser ótimas amigas. A trilha era rodeada de grandes árvores de troncos grossos, de onde estávamos dava pra ver o fim dela que nos levava para o que parecia um bosque.

domingo, 17 de outubro de 2010

Era uma equipe grande com seis garçons e cinco garçonetes e os ajudantes do chefe de cozinha.
_ Oi Angélica. _ Me cumprimentou Bruno um dos garçons.
_ Oi Bruno.
_ Como foi com a aprendiz?
_ Nada mal.
Bruno Henrique é um cara bacana ele é cinco anos mais velho do que eu e é irmão de Daiana a garçonete que assume o meu turno. Cabelos escuros arrepiados, corpo em forma, olhos esverdeados, alto, engraçado.
_ Daiana já está chegando. _ Me avisou.
_ Tudo bem. E Jade como está?
_ Bem _ele sorriu. _ À hora está quase chegando.
Jade Brito era esposa de Bruno ela está de licença por causa da gravidez. Quinze minutos depois Daiana chegou, a vi discuti com Bruno e o vi rir, depois ela veio até mim.
_ Me desculpe Angélica, mas o trânsito estava horrível. _ Ela disse ofegante .
_ Entendo. _ Era o que eu dizia sempre depois de escutar as desculpas dela.
Isso não me incomodava e ela sabia disso, eu era a única que não tinha nada de interessante a fazer depois do trabalho e ela meio que se aproveitava disso.
Troquei de roupa e fui para a casa, o relógio marca sete horas, era apenas o começo da noite.
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_ Meninas vocês terão muito tempo para se conhecerem, agora mãos a obra. _ Leandro chamou nossa atenção.
Já havia clientes nos esperando peguei alguns menus, bloco de notas e caneta e fui atender uma mesa das mesas. Combinamos que eu iria fazer uma demonstração e a outra mesa ela iria atender, se houvesse alguma duvida era só me chamar.
Para minha sorte Sara era uma garota esperta e empenhada, ela não precisou de mim e na primeira vez se saiu muito bem. Eu cuidava dos clientes antigos, os mais importantes enquanto ela atendia os que não faziam muita frequência.
_ Angélica, o senhor da mesa sete quer fala com você.
O senhor da mesa sete era Tales um cliente de menos frequência, mas exigente, foi meu primeiro cliente.
_ Boa tarde Angélica! _ Ele me cumprimentou assim que me aproximei.
_ Boa tarde! _ Sorrir.
_ Sabe que faço questão que me atenda. _ Protestou ele.
_ Sim, sei. Mas nem sempre estarei aqui.
_ Eu sei _ ele disse parecendo triste. _ O que me recomenda hoje?
_ Berinjelas recheadas com tiras de lombo, salada de agrião acompanhado de vinho branco e de sobremesa sorvete de maracujá.
_ Pode trazer. _ Ele sorriu satisfeito.
Entreguei o pedido pra Fernando nosso chefe de cozinha e fiquei ajudando Sara.
_ O senhor da mesa sete é cliente particular seu?
_ Na verdade acho que é o contrário. Ele foi o meu primeiro cliente e gosta de ser atendido por mim.
_ Tomara que eu tenha um desses.
_ Terá se fizer um bom trabalho.
Depois do almoço o restaurante ficou tranquilo e os outros funcionários chegaram para o próximo turno.
_ Bom, eu já vou. _ Anunciou Sara.
_ Tudo bem, te vejo amanhã.
_ Até mais.
O pessoal experiente, o pessoal mais antigo geralmente trabalhava a noite onde se tinha um movimento maior e antes que ela caísse eles chegavam e se aprontavam para assumir o turno.
_ Boa tarde Leandro. _Sorrir.
_ Sara já chegou e está te esperando._ Ele adiantou.
Sara era a garota nova, nossa aprendiz e eu havia ficado responsável por ela. Eu estava rezando para que ela fosse uma adolescente normal ou que pelo menos fingisse, e que fosse esperta, assim eu não teria muito trabalho.
Ela estava no vestiário dos funcionários, estava vestida com uniforme do restaurante de frente para o espelho terminando de arrumar o cabelo. Ela era baixa 1,65 talvez, cabelo loiro escuro com algumas mechas de tons avermelhados já desbotando um pouco cacheado, magra, pele clara.
_ Olá!_ Cumprimentei.
_ Oi! _ Ela disse com um sorriso tímido.
_ Meu nome é Angélica Trindade e serei sua instrutora. _Estendi a mão.
_ Sara Gabriele. _ Ela disse pegando em minha mão. _ Leandro falou muito bem de você. Me vesti corretamente?
_ O uniforme está correto, mas o cabelo, você deve subir mais. Deixá-lo assim baixo a deixa com cara de velha.
Na mesma hora ela desfez o rabo de cavalo e o fez mais alto.
_ Assim está bom?
_ Bom!_ Sorri tentando parecer simpática. _ Vou me trocar e te encontro lá em cima.
_ Tudo bem. _ Ela disse saindo.
Ela parecia que não ia dá trabalho, isso era bom eu não tinha muita paciência. Vestir meu uniforme, fiz um coque, passei uma leve maquiagem e enfiei minha mochila em um dos armários.
_ Você vai trabalhar quantas horas? _ Perguntei.
_ Quatro e terei folga nos fins de semana.
_ Sorte sua. _ Deixei escapar. _ Isso aqui nos fins de semana é um caos.
Eu trabalhava apenas um fim de semana por mês, hora extra, para ajudar os outros.
_ Quantos anos você tem? _ Ela parecia ser bem novinha.
_ Dezessete e você?
_ Vinte.
_ E a sua?
_ Estamos em uma audiência e eu sou o advogado de defesa._ Ele disse animado.
_ Isso parece ser legal.
_ É, quando você tem argumentos.
_ Não anda tendo muitos?
_ Meu cliente tem muita culpa no cartório. _ Ele riu.
Geralmente quando nos encontrávamos não tínhamos muito o que conversar, nos comunicávamos por olhar ou por gestos simples, falar não era a nossa praia. Às vezes ficávamos calados olhando um para o outro e no fim parecia que tivéssemos tido uma longa conversa.
De volta a sala Paula foi à acidentada e eu cuidei do falso braço quebrado, Paula não era muito boa com faixas e gesso. O professor ficava vagando pela sala observando o trabalho e fazendo criticas.
_ Que tipo de acidente temos aqui? _ Ele perguntou nada animado.
_ Um braço quebrado, depois de um acidente com uma bicicleta. _ Paula disse contente.
_ Uma coisa simples. _ Ele avaliou indo para outra dupla.
Quando todos terminaram a sala parecia um Pronto-Socorro. Houve muitos cortes profundos como acidentes domésticos, muita gente enfaixada e muitos pés e braços quebrados. Depois de fazemos as anotações do exercício o professor nos liberou, da faculdade eu fui para o trabalho. No caminho passei na lavanderia e peguei meu uniforme lavado e bem passado ao rigor.
Meu uniforme era composto de uma blusa branca, colete, calça social e um par de sapatos também pretos. As garçonetes do restaurante Gômer se vestiam assim e usavam os cabelos presos em um coque ou em um rabo de cavalo sem nem um fio solto, normas da casa. O restaurante pertence a uma família de argentinos que vieram para Minas Gerais há uns quinze anos atrás, possui uma reputação invejável e é bastante procurado. Faz dois anos que trabalho lá, meu chefe Leandro Diniz é um amor de pessoa quando não se sente contrariado e quando tudo dá certo, mas na verdade ele é um terror.
Estacionei na vaga reservada para funcionários, tudo era bem separado para deixar bem claro quem eram os clientes e quem eram os empregados.
_ Boa tarde Angélica! _ Me cumprimentou Leandro sorridente. _ Pontual como sempre.
_ Angélica!_ O professor chamou minha atenção. _ Chega atrasada e ainda atrapalha minha aula.
_ Desculpa.
O professor podia ser lerdo às vezes, mas em outras ele era pior que mulher com TPM.
A aula de hoje era uma revisão de ferimentos o que envolvia acidentes. Revisão quer dizer que o professor não quer dá aula, então ele usa algo para esconder isso.
_ Hoje vamos trabalhar com curativos. O lado direito ficará responsável por cuidar de ferimentos domésticos e o esquerdo ferimentos mais graves. _ Ele explicou. _ Quero que usem a imaginação, sei que alguns de vocês têm muita.
_ Qual será o nosso ferimento?_ Paula perguntou.
_ Um corte profundo perto do osso com hemorragia, uma bacia quebrada...
_ Não pode ser um simples braço quebrado?_ Ela me cortou.
_ Pode ser.
Eu não estava acostumada com coisas simples, eu sempre imaginava os pior porque um médico de verdade cuidava de coisas além do que um braço quebrado.
Passei o intervalo com Cássio um colega que fazia direito, mas não gostava de passar o momento livre discutindo leis e falando sobre a legislação. Paula assim que viu Cássio mudou totalmente e saiu dizendo que tinha que ver algumas coisas.
_ Está acontecendo algo?_ Perguntei.
_ Não. _Ele respondeu depressa.
_ Tem certeza?
_ Sim, por quê?
_ A Paula te viu e ficou estranha.
_ Até parece que não conhece a Paula, ela é estranha. _ Ele sorriu levando a mão á cabeça.
Cássio Júnior era uma das poucas pessoas que eu conversava ali. Ele era alto, magro, tinha os cabelos e os olhos castanhos claros, quieto, inteligente e cuidadoso ele fazia o segundo ano de Direito.
_ Como está à aula? _ Ele perguntou.
_ Eu e Paula estamos cuidando de um braço quebrado.
Às seis da manhã quando o despertador soou meu corpo reagiu naturalmente, com a preguiça normal de um copo normal. Arrumei a cama e tomei um banho quente o clima ainda estava um pouco frio. Vestir um jeans, uma blusa preta, uma jaqueta, joguei minha mochila nas costas e desci.
Eu não gostava muito de tomar café, mas como eu não dormia bem a noite e precisava ficar bem acordada pela manhã, cafeína era uma boa amiga para cortar qualquer rastro futuro de sono e cansaço.
A UFMG a faculdade onde eu fazia o segundo ano de Medicina não ficava muito longe da minha casa, mas era um bom caminho . Por sorte eu tinha um Prisma cor vinho é de segunda mão, mas que nunca me deixou na mão, o comprei especialmente pra isso, não dava para ficar indo e vindo para faculdade e para o trabalho de ônibus.
Assim que cheguei à faculdade a maioria dos alunos já havia entrado alguns estavam na porta perto de seus carros conversando e fumando antes de entrar. Meu professor já estava acostumado com meus atrasos, eu fazia isso de propósito se eu quisesse chegar cedo, eu chegaria.
Entrei pela segunda porta, tentando me poupar da expressão de reprova do professor, mas falhei. Ele me pegou no quinto passo.
_ Qual a desculpa de hoje Angélica?_ Ele perguntou curioso.
_Bem, houve um engarrafamento e o pneu de uma senhora furou e como eu gosto de ajudar o próximo parei para ajudá-la.
Ele me olhou surpreso e começou a rir, as minhas desculpas estavam cada dia mais criativas.
_ Vá para o seu lugar _ ele disse entre os risos.
Eu me sentava no lado esquerdo da sala, eu era companheira da Paula.
_ Tudo bem? _ Ela perguntou.
_ Até agora sim e você?
_ Maravilhosamente bem. _ Ela sorriu. Pelo jeito dela, isso significava que tinha um namorado novo.
_ Qual a desculpa de hoje?
_ Parei para ajudar o próximo. _ Sorrir.
_ Nossa que prestativa. Devia ganhar a medalha da bondade_ ela me zoou.
_ Eu também acho, mas infelizmente as pessoas não sabem reconhecer um bom exemplo.
Quando o filme terminou eram três e meia da manhã e eu estava na mesma, sem qualquer rastro de sono.
Desliguei a TV e voltei para o quarto, algo macio passou rápido por cima dos meus pés, era minha gata Lira que se assustou quando abrir a porta. Tia Danna havia me dado Lira na ultima vez que esteve aqui no ano passado. Ela disse que Lira ia me ajudar a ficar menos sozinha, mas creio que ela errou de presente.
Lira assim como eu gostava de ser independente e só me procurava quando queria comida ou carinho, vivia passeando e respeitava meu espaço, devia ser por isso que nos dávamos tão bem.
A chuva tinha dado uma moderada e agora caia fraca e fina. Da janela do meu quarto dava pra ver a rua e a casa do vizinho, olhando um pouco mais longe entre os galhos da mangueira do jardim que ficava ao lado da janela do meu quarto eu vi uma pessoa com o que parecia ser uma capa de chuva e estava de cabeça baixa. Abrir um pouco a janela, uma brisa fria queimou a ponta de meu nariz, apertei os olhos tentando ter uma visão melhor, talvez eu conhecesse.
A pessoa olhou na minha direção, não pude ver seu rosto, estava escuro e o capuz tampava sua face. Imediatamente fechei a janela, um arrepio percorreu minha espinha, voltei para a cama era melhor eu tentar dormir, eu já estava vendo coisas.
Meu ombro esquerdo começou a queimar, no lugar onde se situava minha marca de nascença, era uma queimação suportável. Às vezes isso acontecia, ela queimava como fogo, não sei por que, mas até que eu havia me acostumado era uma das minhas coisas estranhas.
Eu precisava dormir e eu tinha pouco tempo para isso, eu tinha duas alternativas, ficar olhando pro teto até acontecer o milagre do sono, ou dá a volta no meu corpo. Vi isso um dia num programa de TV e em algumas vezes deu certo.
Enfiei a mão debaixo do travesseiro e fechei os olhos, tudo que eu tinha que fazer era desligar minha mente do corpo assim ele estaria descansando enquanto minha mente estaria acordada em certo ponto.
Eu tinha consciência de tudo ao meu redor. Do som abafado do despertador ao barulho que os galhos da árvore faziam ao balançar e assim meu corpo dormiu. Era uma coisa estranha, me sentia dormindo, mas eu sabia que estava acordada.

1 . Insonia

No escuro da noite eu rolava na cama.

Eu tenho um sério problema de insônia que nem os medicamentos resolvem. O médico disse para eu fazer varias coisas durante o dia para que no fim eu estivesse exausta e dormisse, como se eu não fizesse, mas por alguma razão isso não funcionava. Eu queria tomar um “sossega leão”, quem sabe dava algum resultado, mas o médico achava isso demais e que podia me derrubar de vez.
Lá fora caia uma chuva pesada, o barulho que ela fazia ao tocar o telhado era alto, mas agradável, quando tocava o chão era calmo e relaxante, mas mesmo assim eu não conseguia dormi. O despertador marcava duas da manhã, eu estava louca que desse seis horas que é a hora que eu me arrumo para a faculdade e trabalho.
Levantei e fui para a cozinha beber um pouco de água, por causa da chuva forte a luz estava fraca e iluminava pouco. A cozinha era exagerada no tamanho, tia Danna realmente era exagerada em tudo, se a casa fosse minha ela seria um cubículo, não sei para quê uma coisa grande que só é usada algumas vezes, já que tanto ela quanto eu não gostamos de cozinhar.
Desde que meu pai morreu passei a viver com Danna, já que minha mãe deu a vida por mim.
Quando meu pai morreu eu tinha oito anos, foi em um acidente de trânsito em São Paulo e desde então passei a viver com ela. Ela foi como uma mãe pra mim, cuidou de mim com dedicação e carinho, foi muito presente, isso até os meus dezessete anos. Quando chegou ao auge de sua carreira de cirugiã-plastica  ela foi convidada á trabalhar na Romênia, no começo ela recusou a ideia, mas depois de muita conversa ela aceitou. Só a vejo uma vez por ano no mês de Julho quando ela tem férias e vem para o Brasil me visitar.
Arrumei um emprego no restaurante mais prestigiado da cidade onde já trabalho a algum tempo, dispensando a mesada que ela depositava, ficando dependente apenas da casa que ela insiste que eu cuide enquanto ela estiver fora. Mas nos sabemos que ela não vai mais voltar.
Tomei um pouco de água e fui para a sala ver TV, devia ter algo passando, algo que fosse para as pessoas como eu que fossem a insônia em pessoa.
No canal doze ia começar um filme, no canal cinco passava um seriado chato de espiãs, no canal sete passava uma central de vendas de coisas para academia, o canal quatro estava fora do ar. Decidir ver o filme parecia ser menos chato.

Prólogo

A vida é uma caixinha de surpresas.

Enquanto nós nos preocupamos com vida em outros planetas mal sabemos das que existem no nosso.
Lugares nunca vistos, criaturas apenas imagináveis, seres diferentes.
Nunca pensei em sai da minha caixinha de vidro, do meu mundinho monótono, mas tudo aconteceu de repente e não tive escolha. Minha caixa de vidro foi quebrada e eu fui tomada pela minha verdadeira realidade.

Anjo de fogo

Há séculos atrás uma raça maligna se libertou do submundo com a ajuda dos Decadentes, seus adoradores, buscando formar um exercito.
Essa raça nomeada Principados, mas conhecida popularmente como Demônios, destruiu cidades e vidas acabando com a luz do segundo lado do mundo, dando inicio a era da escuridão.
Seis seres celestiais foram mandados para destruir os demônios e fazer a luz voltar a reinar, mas todos fracassaram.
Um sétimo foi mandado (Zafiriel), o ultimo da linhagem pura. Ele foi atrás de todos os demônios, os exterminando e os fazendo voltar para o submundo.
Forte e ágil ele massacrou todos sem piedade ou misericórdia, mas foi tarde de mais, as trevas já haviam consumido tudo.
Sua missão estava cumprida, mesmo com as trevas ali ele teria que voltar, sabia que um ser de luz não podia ficar entre os mortais. Para ficar ali teria que ser um deles, ele teria que assumir a forma humana. Ter um coração pulsando, ser orgânico, ter fome, ser sujeitos aos pecados, viver e depois morrer.
Ele desistiu de suas asas assumindo a forma humana (uma mulher) aprisionando seu espírito. Como um ser diferente ele possuía o dom de purificar maus espíritos, foi marcado pelos dois mundos invisíveis aos olhos humanos.
Com a ajuda de mortais puros espiritualmente ele conseguiu fazer a luz reinar outra vez.
Depois de ter seu trabalho cumprido ele pereceu. Seus restos foram queimados e as cinzas elevadas ao céu, ficou conhecido como o Anjo de fogo.

Aviso!!!

Antes de qualquer coisa devo esclarecer que essa história não é religiosa é pura ficção. Então não fique com medo de ler ou me jogue pedras depois. É um romance simples de terror e suspense que envolve "anjos", como qualquer filme por ai visto. É composto de cinco volumes e esse é o primeiro. Sou uma autora iniciante e está historia ainda não passou por um revisão reforçada(então desconsidere os erros por favor! :).
Qualquer contanto comigo pelo msn e orkut--> elianeliih@hotmail.com
Agradeço desde já pela sua atenção e boa leitura.